Por Adriano Amaral
Fico deslumbrado com o poder da lingua portuguesa. Nas mãos dos seus hábeis engenheiros (minha mania de comparar tudo com engenharia) se transformam em edifícios, obras primas da mente e da lingua, nossa patria. Um desses maestros em engendrar a lingua, e coloca-la a seus pés é Chico Cesar. Fascino-me com suas imagens e construções, “o diabo quando não vem, manda sempre o secretário”, “grisalho é o olho do espantalho, que olha as maldades do mundo e diz Caralho!”…por fim, a que considero não mais uma obra prima da lingua, mas um tratado de filosofia: “Deus me proteja de mim, da maldade de gente boa, e da bondade de pessoa ruim”.
Sem mais, um Enxerto Poético, a qual repito e repito toda vez que me deparo, extraído da pagina: http://escritosnoonibus.blogspot.com/2010/11/dois-poemas-de-chico-cesar.html
Enxerto poético
Chico César
Seu poeta preferido,
Bem antes de ser ferido
Já era ferido.
Antes.
Não visitou as bacantes, as nereidas e as ninfas.
Quis beber de sua linfa.
Esperou…
E não morreu.
Esse poeta sou eu.
De lira desgovernada.
Delírio, musa, amada.
Orfão, bisneto de orfeu.
Eu pra cantar não vacilo.
Digo isso, digo aquilo.
Digo tudo que se disse.
Digo Veneza.
Recife.
Fortaleza que se abre.
Quero que o mundo se acabe.
Se não disser o que sinto;
Digo a verdade.
Minto…
Vertente me arrebata.
Minha voz é serenata.
Labareda e labirinto.
A pena de uma galinha;
Trinta caroços de pinha.
Doce delíro de Vate
Um colírio, um tomate.
Um cartucho de espingarda.
O sangue da onça parda.
É tudo que trago e tenho.
Nada tinha de onde venho.
Leio o que arde sozinho.
Beba comigo do vinho;
Da arte do meu engenho.
Retirado do livro “Cantáteis – Cantos Elegíacos de Amozade”